Você está visualizando atualmente Santa Casa cuida da saúde mental de pacientes que receberam e aguardam doação de órgãos

Santa Casa cuida da saúde mental de pacientes que receberam e aguardam doação de órgãos

O hospital conta com 33 psicólogos que atuam durante as 24 horas, no suporte aos pacientes

Ana Gabriela Mesquita, primeira transplantada de fígado em um hospital público no Estado do Pará, a assistente social conviveu por anos com uma doença autoimune que provocou graves danos hepáticos e que a levaram à fila de transplantes e a ter uma vida cheia de limitações impostas pela doença.

“Por 15 anos convivi com a hepatite autoimune, vivendo à base de corticóides e imunossupressores, medicamentos que acabaram me causando uma cirrose hepática. Desde 2020 entrei para a fila de espera de transplantes, que era a minha única chance de sobreviver e o último ano de espera foi horrível, cheio de internações, dor e medo. Lembro agora que há um ano, tive um mês de janeiro horrível, entrando e saindo de UTIs e hoje, um ano depois, voltei a sonhar, a viver uma vida nova com a minha família”, relembra.

Na Santa Casa, Ana Gabriela recebeu apoio psicoterapêutico enquanto aguardava pelo transplante e continua recebendo suporte de psicólogos e outros profissionais no atendimento ambulatorial da instituição, meses após o procedimento de alta complexidade.

Segundo ela, graças ao apoio que recebe do hospital, ela está tendo um 2024 cheio de esperanças. Ana contou que voltou a pintar, estudar e que já planeja realizar uma atividade física e retomar seu trabalho como assistente social.

De acordo com a psicóloga Camyla Cardoso, que atua junto a pacientes pediátricos que aguardam ou já fizeram transplantes renais na Santa Casa do Pará, planejar e estabelecer metas é um comportamento que faz parte da nossa cultura e pode ser algo positivo ou um gatilho para a ansiedade de qualquer pessoa, principalmente aquela que enfrenta problemas de saúde.

“O diferencial é termos objetivos, metas alcançáveis e mensuráveis. Precisamos entender e visualizar quais os passos a serem dados para chegar naquele objetivo. Algumas pessoas almejam objetivos macros, sem antes mesmo preparar e conquistar os degraus que antecedem esse objetivo. E o que acontece? Vem a frustração, imediatismo para chegar no objetivo maior, ansiedade, etc.

E quando o tratamento traz mais qualidade de vida, porém, ainda requer cuidados posteriores com a saúde, é preciso ficar muito atento, especialmente se o paciente é uma criança, que depende dos cuidados da equipe de saúde e também dos familiares. A psicóloga ressalta que no trabalho com os pequenos pacientes que aguardam pelo transplante renal, que são pessoas que precisam lidar com uma doença crônica mesmo após o transplante, a abordagem é bem particular.

“É um trabalho delicado e diferente de qualquer outra clínica da psicologia, pois são pacientes que precisarão desse cuidado para o resto da vida. Contudo, ao mesmo tempo, precisamos trabalhar com a esperança e suas crenças, sejam elas religiosas ou de outros aspectos. Levar essa compreensão do autocuidado para a vida, do entendimento sobre sua doença e limitações, conquistar a adesão desse paciente em torno de inúmeras restrições, e dessa forma, promover mais qualidade e dignidade a essas pessoas é a grande conquista para uma atitude positiva e de esperança para o futuro”, afirma a psicóloga.

No caso da Ana Gabriela, a psicoterapia ajudou a suportar o tempo de espera, que junto com o apoio da família, principalmente da mãe, dona Lucideia Alves, lhe fez não perder a esperança.

“Se eu estou aqui podendo contar minha evolução e tudo o que passei neste período, foi porque, em algum lugar, uma família que mesmo sofrendo com a perda de alguém, teve um gesto de caridade de fazer a doação dos órgãos. Apesar de não saber quem foi, eu oro por essa família e sou grata pelo gesto que me devolveu a vida”, declara Ana Gabriela.

Atualmente a Santa Casa conta com 33 psicólogos que atuam durante as 24 horas, no suporte aos pacientes que se dá em 17 setores, desde o atendimento ambulatorial, passando pelas enfermarias, urgência e emergência obstétrica e até mesmo nas UTIs e no Espaço Acolher, que atende as vítimas de escalpelamento, explica a psicóloga Cláudia Colino, referência técnica da psicologia na Santa Casa.

“A psicologia está presente em todas as esferas do hospital. Nosso atendimento se difere de acordo com o perfil do setor e a demanda do paciente ou da família, mas em comum nós trabalhamos no acolhimento, escuta, suporte emocional, na assistência psicológica ao paciente durante o período de hospitalização, visando minimizar a ansiedade e também orientar nas situações de doenças graves e de perdas”, resume Cláudia Colino.

Deixe um comentário