Você está visualizando atualmente Estado mantém atendimento a vítimas de escalpelamento no Espaço Acolher

Estado mantém atendimento a vítimas de escalpelamento no Espaço Acolher

Essencial no processo de recuperação, o acolhimento é feito a distância, para garantir qualidade de vida a quem se recupera das sequelas e traumas desse tipo de acidente

Durante a pandemia de Covid-19, o Espaço Acolher, em Belém, que recebe vítimas de escalpelamento, não deixou as pacientes desassistidas. Aquelas que moram no Pará retornaram às cidades de origem, por medida de segurança para evitar o contágio pelo novo coronavírus, mas o atendimento psicossocial foi mantido, adaptado à realidade de cada paciente, feito por chamadas online ou ligações telefônicas. Atualmente, apenas uma paciente, oriunda do Estado de Rondônia, recebe os cuidados presencialmente, pois está em tratamento na Santa Casa de Misericórdia do Pará, unidade de referência para vítimas de escalpelamento.

Criado para garantir o atendimento psicossocial às vítimas que passam meses na capital paraense enquanto aguardam cirurgias reparadoras ou outros procedimentos para melhorar o estado clínico e psicológico, o Espaço Acolher, mantido pelo Governo do Pará, por meio da Fundação Santa Casa de Misericórdia, também recebe acompanhantes das vítimas, quando necessário.

Jureuda Guerra, psicóloga do Espaço Acolher, atesta a importância desse momento no tratamento. “Quando a paciente deixa a ala clínica tem alta hospitalar acompanhada e, semanalmente, retorna para fazer os curativos. E esse processo pode demorar dois, três meses. Já tivemos quem ficasse por exatos 12 meses no acolhimento, em função do ritmo da recuperação, que varia muito de uma pessoa para outra – seja pela faixa etária, pelas condições emocionais etc. O importante é garantir que ela se recupere da melhor forma, para não perder o enxerto feito na caixa craniana para substituir o couro cabeludo”, explica a psicóloga.

A única paciente em acolhimento presencial é Kátia Valério Batista da Silva, 46 anos, que nasceu no Amazonas, mas mora em Porto Velho, capital de Rondônia. Indígena da etnia Apurinã, ela foi vítima de escalpelamento aos 9 anos, em 1982, no Rio Purus, próximo à cidade de Lábrea, no Amazonas. Faz tratamento na Santa Casa há um ano e meio, desde fevereiro de 2019, para melhoria da área afetada pelo acidente. Vem duas vezes por ano a Belém para o tratamento e fica no Espaço Acolher. A paciente já fez três cirurgias na Santa Casa, e a quarta está marcada para novembro deste ano.

Vida nova – “Eu fazia tratamento em Rondônia, mas não estava dando resultado. Era muito sofrimento. Passei dois anos sem dormir direito porque sentia muitas dores. Depois que iniciei o tratamento na Santa Casa sou outra pessoa. Vivo sem dor nenhuma, ganhei qualidade de vida”, afirma Kátia Valério.

Ela enfatiza a importância do acolhimento para seu processo de recuperação. “Esse foi o primeiro apoio psicológico que tive desde o acidente, ocorrido há 37 anos. Foi somente quando cheguei no Espaço Acolher. Esse acolhimento mudou a minha vida. Hoje sou outra pessoa, com autoestima elevada, segura, feliz. Todo esse apoio foi um ponto de mudança na minha vida. A ‘Kátia’ depois do atendimento no Espaço Acolher é outra pessoa. Agora me sinto mulher, sei do meu valor, tiro a minha peruca sem medo de julgamentos. O ‘Acolher’ hoje, pra mim, é uma família”, garante.

Eixos sem proteção – O escalpelamento é o acidente provocado pelo eixo do motor de pequenas embarcações. Por conta da falta de proteção no eixo, as vítimas – a maioria mulheres -, ao se aproximarem do motor têm os cabelos arrancados, muitas vezes lesionando outras parte do crânio. Desde 2009, uma lei federal tornou obrigatória a proteção do eixo do motor. No entanto, apesar da fiscalização, embarcações ainda trafegam pelos rios da Amazônia com o eixo exposto.

Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), foram registrados 13 casos de escalpelamento em 2019 no Pará. Este ano, até agora, houve cinco acidentes, com vítimas residentes nos municípios de Muaná, Afuá e Portel, no Arquipélago do Marajó; Oriximiná, na região oeste, e Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém.

Por Carol Menezes (SECOM)

Deixe um comentário