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Santa Casa do Pará garante atendimento às vítimas de escalpelamento há mais de 2 décadas

Aos cinco anos de idade, Diulene Pantoja foi vítima do acidente de escalpelamento com motor de barco no município de Bagre no Marajó. Desde então sua rotina foi de idas e vindas a Belém para o contínuo atendimento na Santa Casa, hospital que desde 1998 é referência para o atendimento às vítimas do acidente no Estado.

“O tratamento não é longo, ele é pra vida toda. Algumas cicatrizes vão desaparecendo, mas a cabeça fica pra sempre sensível ao sol e ao calor sem o couro cabeludo, fere, e a gente precisa voltar para cuidar”, conta Diulene.

A jovem foi uma das primeiras pacientes atendidas pelo cirurgião plástico Victor Aita, que integra a equipe de atendimento às vítimas desde o início do serviço na Santa Casa.

“ Algumas pacientes sofrem traumatismos crânio-encefálicos. Pode ser que de imediato eles não tenham repercussões, mas mais tarde a gente não pode falar que não possa vir acontecer outros tipos de sequelas. São casos graves e causam problemas não só de repercussão imediata, mas também de repercussões tardias. De imediato seriam o sangramento, o sofrimento causado pela dor do trauma, explica o cirurgião.”, explica Victor Aita.

Apesar da gravidade e de muitas campanhas de divulgação sobre os riscos do acidente e a necessidade de prevenção, com a utilização da proteção de eixos do motor distribuídos pela Capitania dos Portos, Diulene afirma que ainda testemunha a falta de prevenção pela população de sua região.

“Tem gente que ainda não sabe o que é o acidente, e tem pessoas que pensam ‘isso não vai acontecer comigo, não vai acontecer com a minha família’ e só passam a procurar informações depois que acontece”, conta.

Em uma série histórica que acompanhou o número de casos ocorridos no Pará desde 2006, o pior ano em números do acidente foi 2009, quando 22 casos foram registrados. De lá para cá, políticas públicas implementadas ao longo de quase duas décadas contribuíram com a redução dos acidentes em mais de 60%.

“Tivemos uma grande redução nos últimos anos. Este ano foram 4 acidentes. Mas consideramos que um caso já é muito, pela gravidade para a saúde da vítima e todo o impacto social que gera para essa paciente e para sua família”, explica a Assistente Social Luzia Matos, coordenadora do Espaço Acolher, que também esclarece que desde que foi criado, no ano de 2006, o Espaço Acolher realiza atendimento psicossocial e educacional às vítimas.

“A gente trabalha para que essas pessoas que sofreram acidentes, seus familiares, seu acompanhantes possam ter as garantias do direito deles, seja previdenciário, do tratamento fora de domicílio para que ela possa conseguir fazer seu tratamento, dar continuidade aos estudos, e além disso, a gente também busca transformar essas pessoas e essas famílias em agentes de prevenção nas suas comunidades, porque a gente precisa acabar com o escalpelamento”, afirma Luzia Matos.

Para a psicóloga Jureuda Guerra, que atende as pacientes no Espaço Acolher, por conta das dificuldades de deslocamento das pacientes de suas localidades, no interior do Pará para a capital,  é necessário que os municípios também garantam serviços de atendimento às vítimas de forma a integralizar, de acordo com o que é preconizado pelo SUS, o atendimento às vítimas.

“Esse aspecto do atendimento psicossocial, por exemplo, seria interessante que os municípios também garantissem, porque existe um período que elas estão no próprio município e todas elas vão desenvolver estresse pós-traumático, todas elas vão precisar de um acompanhamento sistemático, psicológico, e muitas das vezes, inclusive com psiquiátricos, elas desenvolvem síndromes de pânico, síndromes de ansiedade generalizada”, reforça a psicóloga.

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