Visitar regularmente o dentista e não descuidar da escovação dos dentes são medidas necessárias para manter a saúde da boca desde a infância. Mas o que pouca gente sabe é que  a atuação do dentista nos cuidados com o paciente pode fazer toda a diferença para a reabilitação oral e também prevenção de doenças durante os períodos de hospitalização.

A odontóloga Isabelle Alves foi a pioneira no desempenho dos cuidados orais em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP) em 2016. Ela ressalta a importância da participação do dentista na equipe multiprofissional que atua nas unidades.

“O paciente que entra na UTI  pode desenvolver em 48 horas a PAV,  pneumonia associada à ventilação mecânica, que é uma das infecções mais recorrentes no ambiente hospitalar. A  falta de higiene ou higiene insuficiente podem  levar a esse quadro e comprometer a saúde do paciente como um todo. Por isso, a presença do dentista na UTI é fundamental na  realização e orientação do procedimento para que ocorra de forma padronizada, assegurando o bem estar do paciente, o menor tempo de internação, menor custo hospitalar e uma alta segura”.

A presença do odontólogo em UTI é uma exigência do Ministério da Saúde, assim como de outros profissionais de saúde como médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e técnicos de enfermagem, além de equipes de apoio para trabalhos administrativos e limpeza do local. Essa diversidade, além de garantir os cuidados necessários em cada especialidade também possibilita um atendimento mais integrado para o paciente, considera Isabelle Alves.

” O paciente quando é admitido em uma unidade de terapia intensiva, ele precisa ser olhado de forma sistêmica, outras doenças podem influenciar na saúde oral e a saúde oral pode refletir outras doenças. Estudos feitos pela ACIH mostraram que conseguimos zerar o número de PAVs dentro da UTI, o que mostra que o trabalho da odontologia, assim como o dos outros profissionais da equipe, está acontecendo de forma mais eficiente. Nós estamos diminuindo o risco daquele paciente ter um adoecimento maior uma vez que ele já se encontra em estado crítico”, conclui a odontóloga.

Para além do atendimento nas UTIs que conta com seis cirurgiões dentistas, a Santa Casa também conta com o trabalho de dois profissionais do Serviço de Referência em Fissuras e Anomalias Craniofaciais (Sfac) que atende integralmente a pacientes fissurados, desde 2018. A odontóloga Edilza Sacramento faz parte do serviço e ressalta que os cuidados com a saúde da boca e o sucesso da reabilitação funcional e estética do paciente fissurado andam lado a lado.

“Como a gente trata de paciente fissurado que sempre vai fazer uma cirurgia na boca, ele precisa ter uma saúde nota 10. A gente orienta a mãe pra fazer higiene oral e não deixar o bebê dormir de boca suja para não dar cárie.
Fazemos consultas periódicas de 6 em 6 meses no caso dos bebês e conforme eles vão crescendo se mantém esse acompanhamento odontológico de prevenção e preparação para as cirurgias”, explica Edilza que também detalha o cronograma de procedimentos pelos quais o paciente vai passar até a conclusão do tratamento.
“Por volta dos 6  a 9 anos colocamos um aparelho de expansão no céu da boca para aumentar a área da fissura possibilitando que que os cirurgiões plásticos possam depois colocar uma área de osso considerável  que futuramente sirva de nicho para o dente permanente.
E depois dessa cirurgia a gente vai pra ortodontia fixa que vai melhorar os dentes, melhorar a auto estima do paciente e depois da ortodontia vai ser a cirurgia plástica do nariz.”, descreve a odontóloga.

A jovem Maria Luiza é uma das pacientes acompanhadas pelo serviço, passou pelos altos e baixos emocionais do tratamento, mas agora, chegando ao final, se sente confiante.

” Logo no começo da adolescência foi difícil entender, eu me sentia estranha, diferente das outras pessoas. Mas por volta dos 15 anos, com o apoio da psicóloga aqui do serviço, eu fui entendendo e comecei a aceitar. Também estou gostando muito do atendimento com a dentista, vejo a diferença e ano que vem eu vou fazer a cirurgia plástica”, diz a paciente.

Cuidados com a Saúde Bucal

Os cuidados com a saúde da boca devem acontecer o mais cedo possível. Segundo a dentista Isabelle Alves, a consulta deve ser frequente e o mais cedo possível.

” Já na gravidez, a gestante deve fazer uma consulta com o dentista para receber a orientação ao que deve ou não comer, pois se a mãe ingere alimentos muito açucarados, provavelmente a criança vai nascer com a tendência a ingerir esses alimentos que favorecem o surgimento de cáries. Esse cuidado também se estende à gestante,  pois no período gestacional há alterações hormonais que podem gerar inflamações na gengiva ou exacerbar outros processos presentes, como a cárie. Assim se evita também complicações, como por exemplo abcessos, que  próximo ao parto podem agravar ou até mesmo causar o parto prematuro da criança”.

Após o nascimento é importante que a mãe mantenha a amamentação que melhora os processos de respiração, deglutição, desenvolvimento bom dos arcos dentários e  da fala. Os pais também devem higienizar a boca do bebê e escovar desde o primeiro dentinho.

Após esse período, se deve  manter o hábito de escovação de forma correta e as visitas regulares ao dentista até a vida adulta.

Evitar fumar e consumir bebidas alcoólicas e manter uma alimentação saudável também são fatores que contribuem com a saúde da boca.