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Atendimento humanizado garante bem-estar em internações longas

Bebês na UTI pediátrica têm a presença permanente das mães, o que traz benefícios para as crianças extensivo às famílias

 

No ano de 2021, mais de duas mil crianças, entre recém-nascidos e de outras etapas da infância, foram  internadas na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP). Muitas dessas crianças enfrentaram períodos longos de hospitalização, que duraram semanas e até meses, como é o caso de Wendy Vitória, que nasceu na Santa Casa, em outubro de 2021, e segue na UTI pediátrica, completando, neste fevereiro, cinco meses de vida e de internação.

Wendy é a segunda filha de Luciane Souza, que precisou deixar a primeira filha, uma adolescente de 15 anos, sob os cuidados de uma tia, para poder estar diariamente com a pequena Wendy. “Eu soube que a minha bebê tinha uma malformação que a tornava incompatível com a vida ainda na minha gestação. Em nenhum momento eu escondi da minha filha mais velha, que compartilhou cada momento comigo. E quando a minha bebê nasceu com vida e foi pra UTI neonatal eu expliquei para ela que a irmã precisava muito de mim e me entreguei de corpo e alma e desde o nascimento dela eu passo o dia inteiro com ela na UTI”, conta Luciane que acredita que a possibilidade de estar ao lado da filha internada é benéfica para ela e para a bebê.

“Eu creio em Deus, mas eu sei de todos os riscos dela, pois a equipe da UTI me esclarece todas as minhas dúvidas e eu acredito que o simples fato de estar junto dela faz bem para ela, que é um bebê que nunca foi para casa, que saiu da UTI Neonatal para UTI Pediátrica. E se não fosse uma UTI como essa da Santa Casa, que permite que eu fique com ela, minha filha ia receber só visita. E aqui eu realizei o sonho de carregá-la, de cuidar dela, de arrumar o berço bem confortável e bem colorido”, conta Luciane.

O direito da criança de ter um acompanhante durante a internação está previsto em lei e é implementado na Santa Casa, inclusive nas UTIs, como detalha o enfermeiro intensivista, Marcelo Oliveira, que há 5 anos atua na UTI Pediátrica do Hospital.

“As mães são envolvidas no cuidado e, desde a admissão na UTI pediátrica, elas participam da visita multiprofissional onde é definido o Plano Terapêutico do paciente. Ficam acompanhando os filhos 24h por dia e são acolhidas pela equipe multiprofissional diariamente, recebendo informações relacionadas ao quadro clínico do paciente, rotina da unidade, fluxo de pessoas, necessidade do uso de equipamentos e exames especiais. Durante a internação na UTI pediátrica são envolvidas no cuidado após a formulação do Plano de Alta do paciente. Sempre que necessário é estabelecido um meio de comunicação direto entre as mães acompanhantes e a equipe assistencial”, informa o enfermeiro.

Para a psicóloga Sheyla Rocha, que atua há 16 anos na assistência a acompanhantes de bebês internados na Santa Casa, permitir a presença permanente das mães no local de interação dos pequenos pacientes é algo essencial e traz benefícios para os bebês, mães e se estendem à família, mas é um processo que também requer cuidados e atenção da equipe para a saúde mental dessa mãe.

“Depois de sonharem com um bebê ideal e se depararem com uma situação real muito diferente da idealizada, essas mães enfrentam um turbilhão de sentimentos, muitas vezes conflituosos, o que não é um processo fácil. Então, a psicologia na rotina hospitalar atua no sentido de mostrar para essa mãe que a permanência dela é uma das principais fontes de proteção de desenvolvimento afetivo e emocional que vai contribuir para o tratamento da criança, na compreensão do diagnóstico e também mostrando que ela pode participar dos cuidados junto com a equipe, o que gera um sentimento de apropriação de que o bebê é meu e eu sou capaz de cuidar”, afirma a psicóloga.

Lorena Vilhena também sabe bem como é lidar com esses sentimentos. Mãe de um adolescente de 13 anos, se surpreendeu com a chegada prematura de seu segundo filho, Joaquim, que veio ao mundo com 32 semanas de gestação, pesando 1.700 gramas e por isso precisou ficar internado por três semanas no hospital, primeiro em uma UTI e depois, junto com a mãe, na Unidade de Cuidados Intermediários Canguru da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará ( FSCMP).

“A minha primeira gravidez foi tranquila e tive o meu primeiro filho quando minha gestação completou os nove meses. Então, na segunda, eu esperava um bebê saudável, grande, que já viesse logo para casa. Mas ele nasceu prematuro, eu precisei ficar internada e ele teve que ir pra UTI. E depois precisei ficar ainda um bom tempo junto com ele no hospital, longe do meu outro filho de quem eu sentia muita falta, mas lá tinham uns psicólogos que conversavam muito comigo e com outras mães e os outros profissionais que me ensinaram a cuidar dele, me ensinaram a amamentar e tudo isso me ajudou e me ensinou a ser não só uma mãe, mas um ser humano melhor”. conta Lorena que hoje, já em casa, comemora o segundo mês do pequeno Joaquim.

*Texto de Etiene Andrade (Ascom Santa Casa)

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